quinta-feira, 28 de fevereiro de 2013

POESIAS 2013

A HORA DA AVE MARIA



A Hora da Ave Maria
E o ferro de passar roupa,
Na cozinha ferve a panela e
Um cheiro de jantar perfuma a casa
O rádio faz rezar os lábios da minha mãe
Conduzida pelo canto do coral ao fundo,
Uma voz micro-fônica
Abençoa a água sobre a mesa
O latim é presente e fanhoso
Ouço em silêncio as repetidas frases,
Seqüências decoradas
Anunciando o fim da súplica

A Hora da Ave Maria...
Junto às roupas dobradas
Acompanham os pratos sobre a mesa,
A família se recolhe para a novela
Sem nada mais esperar do dia.




A ÚLTIMA DANÇA

Pegue minha mão
Convida-me para dançar,
Ocupemos o centro do salão
As luzes sobre nós
Apagar-se-ão
Conduz-me gentil
Sussurre levemente
Em meu ouvido
Não me assuste...
Rodopiemos na melodia,
Levitemos na canção
Junto ao teu (frio) olhar
São dois pra lá...
Antes da música
Terminar
Acaricia-me
Com doces palavras,
Antes de me beijar
Deita-te comigo,
Conta-me uma história
Antes de me levar.


AS CASINHAS


As casinhas lá do pico
Escorrem por entre duas pernas abertas,
Uma estreita vagina no raso declive do espaço

Ao longe as casinhas parecem lavas
Expelidas por um vulcão,
Nas laterais dos montes se estende o verde manto

Unidas num limo vivo,
As casas rolam como seixos
Arremessadas de um tabuleiro

As casas escoam das coxas
Sob o céu aberto como se fossem dados,
Formando um riacho de pedras,

O ventre aberto entre os montes
Despoja-se dos tetos,
Uma vila inteira se derrama pela fenda amada
(Que não ama),
Devolvendo pelos lábios
Todo o excesso
Que enchera seu ventre aberto.




DIAS EM GUAIANASES

Vento de poeira nos olhos
Poço d’agua e mutirão,
Sobre tijolos caracóis insistem
Reboque oco
Das casas sem retoque,
Redemoinho no quintal
Ventania correndo o morro
Barro vermelho sob o mato,
Pipa alta na estrada estreita
Menino pobre
Vida pálida,
Pedaço inacabado do longe
Bola de gude e cascão
Ferida com pus, nos joelhos e nas mãos,
E as pedras cuspidas da pedreira

Içás apanhados
Misturados com farofa,
Mastigam os risos careados
Guaianases
Do pão sem manteiga
De doce de leite adoçando o café,
A espiriteira sem gás

De roupa lavada no rio
Da lata d’agua na cabeça,
E o cheiro doce da flor
Guaianases
Do sapo gordo no poço
O cantar do galo,
Da procissão que chama
Ventos que não tem hora
E na embalagem de chicletes,
Um astronauta flutua...
A noite é de vela sobre o pires
Nossa Senhora (verde florescente)
Ilumina histórias de assombração
Guaianases
Terra de pouca gente
De rostos que não lembro,
De um pai sem lembrança
Um samba que alguém cantou
Trancou-se na memória,
Nunca mais foi embora

Onde estará Guaianases
Agora?
Das mangas maduras no cemitério
Da camisa branca da escola,
Do amarelo encardido na gola
Visto pelos olhos da infância,
Nem se lembra que um dia
O menino chorou
Guaianases!
Da infância desesquecida
E da cartilha que dizia,
Que era suave a vida...



UM FIO DE CABELO

Dentro de um livro
(De poemas),
Um fio de cabelo
Encontrei

Castanho ruivo
Ocre louro
Coisa assim,
De quem poderia se-lo?

Do antigo autor (talvez)
Supostamente morto,
Ou de um apreciador
De poemas como eu?

Poderia ser do vendedor
Ajeitando os livros na estante,
Decidiu num dado momento
Eximir-se de sua função

Enquanto apreciava as páginas
Mergulhado na magia da leitura,
Imerso em palavras,
Descuidou-se...

Ou foi o vento Indiferente às escolhas
que o trouxe em suas asas tal fio,
Depositando-o aleatoriamente
Numa página do livro?

Deste livro de poemas
Que seguro em minhas mãos...




A DANÇA DO ÍNDIO

Nasce índio
Índio dança
Morre índio
Dança índio

Índio caça
Dança índio
Índio festeja
Índio dança
Festa de índio
Índio dança
Tristeza de índio
Dança índio
Índio grato
Dança índio
Índio reza
Índio dança
Índio doente
Dança índio
Índio despojado
Índio dança
Terra sem índio
Índio dança
Guerra de índio
Dança índio
Índio vai à Brasília
Dança índio
Sobe a rampa
Dança índio.
Protesto de índio
Índio dança
Matam índio
Dança índio.

quarta-feira, 6 de fevereiro de 2013

HAIKAI

Olhar ao longe
A saudade acalma
As lágrimas.
 

Asas molhadas
Borboletas
Secam-se ao sol.
 

Pouco espaço para palavras
Frágil ponta de lápis
A pressa na carta.
 

Folha e concentração
Barulho alheio
Não haverá poema.
 

Inquieta saudade
Toque de celular
Ledo engano.
 

Troca de olhar
Beijos e risos
Lençóis desfeitos.
 

Imóvel mosca
Presa à vidraça
Contempla a paisagem.
 

Faro raro
Calda vibrante
Osso enterrado.
 

Leve bailar
Espaço para planar
Voa ave para algum lugar.
 

Crique, craque
No silêncio da noite
Formigas labutam.
 

Cantos ao longe
Rompe ruidos
De dentro da gaiola vem.
 

Azulejos na parede
Abstratos traços
Cada dia um desenho.
 

O sol ilumina
A pequena fenda
Raia o dia.

segunda-feira, 26 de dezembro de 2011

SEMPOEMAS

Nascido em São Paulo, formado em Desenho Industrial e Professor de Computação Gráfica, Pedro Buonano também é apaixonado por poesia. Atento às curiosidades do dia a dia, não perde momentos de inspiração.

Publicou uma edição independente, do seu primeiro livro de poemas  “POESIAS TUAS PENSAMENTOS MEUS”, realizando um sonho de alguns anos de trabalho. Após cursar a disciplina de “POESIA CONCRETA BRASILEIRA” na (UNESP), sua maneira de ver, ler e escrever poesia mudou radicalmente.

Continua trabalhando em novas idéias, com o objetivo de melhorar seu trabalho. Este blog apresenta alguns poemas do seu livro e poesias mais recentes, juntamente com um trabalho de "POESIA VISUAL”, que farão parte de uma futura edição.